Quer aprender um pouco mais sobre leitura e exercitar o seu senso crítico? Então leia abaixo o post O QUE É LEITURA ANALÍTICA? e aprenda a estruturar sua análise com base em questionamentos aos textos.
Esse artigo, construído a partir do livro “As Trilhas da Escrita – Caminhos e Técnicas para escrever com naturalidade” (que será lançado em breve), apresenta técnicas para compreender significados e observar com profundidade.
Os objetivos do que chamamos de Leitura Analítica são:
- observar e assinalar referências;
- extrair citações;
- selecionar e extrair fatos por ordem de acontecimentos;
- citar suas opiniões, comparando-as com o texto;
- caracterizar personagens pelas suas ações;
- compreender os significados das partes do texto e o seu todo complexo;
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Como iniciar uma leitura analítica?
Ao iniciar uma análise, é necessário que o leitor busque a compreensão íntima dos elementos do texto, estudando-os isoladamente (vocabulário; estilo de construção frasal; conteúdos abordados…).
Essa análise não tem estrutura definida. O analista define seus objetivos e, consequentemente, monta o roteiro/esquema da leitura. Além disso, ele deve ter a noção de que não há a leitura única ou final, porque cada leitor lê com determinado objetivo, buscando aquilo que lhe convém. Ele vai ou não vai encontrar as respostas que procura, mas pode haver milhões de outras perguntas que não interessam a determinado leitor e interessam a outros.
Além de tudo, o mais importante e sarcástico ou inacreditável, é que o significado da leitura não é do sujeito, do leitor, mas da ideologia que está por trás dele. Essa ideologia orienta ele a perceber e valorizar mais determinados aspectos ou nuances, conotações e, não, outras. Para outro leitor, esses mesmos elementos podem ter outro significado. Esse é o verdadeiro ponto de vista, porque indica de que posição ideológica (não somente posição física) ele está falando, lendo, interpretando.
Existe um roteiro para uma leitura analítica?
Se fôssemos fazer um roteiro para uma leitura analítica, faríamos em forma de perguntas, porque, pelo nosso entender, não há resposta única ou verdade pura, incontestável e eterna.
Entendemos que leitura analítica é estrutural, feita para aproximar o texto do senso crítico do leitor que busca expressar informações contidas no que ele procura, ou seja, respostas ou entendimentos. Somos forçados a direcionar a análise por meio de questões inerentes ao objeto analisado.
As informações que o leitor passar serão as que ficaram contidas, apreendidas pela leitura que ele fez, e isso está relacionado aos contextos temporais ou históricos, ambientais, filosóficos, ideológicos e pessoais. Ou seja, ele vai ler (perceber) aquilo que conseguir enxergar na sua forma cultural de ver (ideologia).
A mensagem da sua leitura estará estruturada para identificar a mensagem que você quis passar. Ou seja, você pode ter relacionado, segundo seus objetivos, o seu texto com outros trabalhos semelhantes, aqueles em conformidade ou discordância com o que percebe na sociedade do momento, os motivos que o levaram a analisar daquela forma, influenciado por qual ideologia ou idolatria, até.
Técnica do Elenco de Perguntas
Façamos nosso elenco de perguntas, preliminarmente, porque elas se sucedem. Na medida em que há uma resposta, pode sugerir outras perguntas decorrentes e consequentes.
Para analisarmos com profundidade, precisamos começar a exercitar nosso olhar por meio dos elementos básicos, ou seja:
- Quem são os personagens?
- Como foram concebidos?
- O que são e como foram construídos os cenários?
- Quais os detalhes desenhados pelo autor? ,
- O que há nos fatos e por trás deles?
- Como posso extrair utilizando as análises do autor?
- O que motivou o autor a realizar essas análises?
- Como estão construídas as descrições?
- O que elas descrevem e não descrevem? (deixam implícito ou escondido)
Perguntas mais profundas e filosóficas ao texto
- Qual ou quais os objetivos principais da sua leitura analítica?
- Que tipo de material, texto, fonte, está sendo lido? Científico? Ficção? Acadêmico? Texto Técnico? Literário? Publicidade? Educativo? Religioso? Político?
- Como compreender as características essenciais do texto lido?
- Que discurso, posição ideológica, o autor expressa por meio do seu texto?
- Quais problemas são destacados pelo autor?
- Quem é o autor, em qual contexto sócio-histórico, político e cultural está inserido?
- Como ele apresenta os elementos fundamentais de seu texto? (personagens, cenários, fatos, análises, descrições…)
- Quais as relações mais evidentes entre as partes do texto, na sua estrutura completa, na conexão entre as partes e o todo?
- O relacionamento entre palavras, frases e capítulos é coerente ou incoerente com a tese proposta? Essa relação é íntima ou superficial, aleatória, forçada?
- Como foi sua compreensão ao iniciar a ler o texto? Qual foi, depois de uma leitura mais atenta? E, no final da análise, qual o nível de compreensão ficou e se a leitura feita em cada uma das fases foi a mesma em todo o trabalho de leitura?
- Que relação esse texto faz com outros afins ou similares que tratam de temas semelhantes?
- Como você contextualiza a sua leitura em relação a outras de outros autores e autoras e, inclusive, a do texto analisado? As informações e correlações são as mesmas? Há divergências?
- Além das questões, pontos de vista convergentes, houve análise das divergências? Houve dialética na sua análise?
- Em relação aos temas, aos tempos dos pensamentos dos autores, às formas de discurso (formas do dizer) em ocasiões e contextos diferentes, como você classificaria a abordagem do texto lido?
- Há relação entre a abordagem do livro e a sociedade que ele analisa ou está inserido? Ou seja, há ou não verossimilhança entre o texto analisado e o contexto em que ele se colocou?
Poderíamos estender nosso elenco de questões infinitamente, mas preferimos que o leitor, o analista, possa perceber o que não foi perguntado ou não foi abordado e faça suas perguntas.
O verdadeiro sentido da leitura analítica
Então, mesmo quando lemos como passatempo, por diversão ou lazer, analisamos o que lemos porque precisamos entender, encontrar sentido, lógica no que lemos. Se não encontramos sentido, não há o que nos agrade ou prenda o interesse, paramos de ler aquilo e procuramos outra coisa.
Acontece muito isso não só em livros, mas em filmes e vídeos. Se o filme não nos agrada e, para chegar a essa conclusão, já analisamos, então, procuramos outro.
Paulo Freire diz que a leitura é “uma forma de reinventar, de recriar, de reescrever – tarefa de sujeito e não de objeto”.
Maria Lúcia Brandão diz que “o sentido da mensagem escrita não está no texto, mas na mente do leitor e do autor”. Entenda-se esse “sentido da mensagem” como leitura, pois “o leitor constrói o sentido, na interação com o texto”.
Michel Pêcheux, o principal teórico da Análise de Discurso, linha francesa, vai nos dizer que “os instrumentos literários e científicos não foram feitos para dar respostas, mas para colocar questões”, pois, esse é o “verdadeiro meio de uma experimentação”.
Aí está o verdadeiro sentido da análise, o de questionar, de buscar outras versões, outros significados. Ou seja, o leitor precisa desconfiar de tudo no texto. Ele não diz só o que está escrito e, também, pode não estar dizendo tudo que quis e da forma que quis dizer. Ele disse o que conseguiu dizer daquela forma.
Gostou do texto? Qual foi a sua leitura? Que indagações passaram por sua cabeça?
Para aprofundar seus conhecimentos a respeito da leitura e da escrita de textos literários leia o nosso post “Principais Gêneros da Literatura”
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