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8 dicas para o uso da crase

Trazemos aqui algumas dicas práticas sobre o uso da crase. São ensinamentos básicos que, apesar de terem como fonte o conhecimento de normas gramaticais, podem ser utilizadas de forma simples, evitando erros.

Nosso foco é sempre a capacidade de expressão, a eficiência da comunicação e a troca de ideias. Com isso, buscamos um modelo de escrita que não se apegue, desnecessariamente, a regras de uma língua padronizada. Esse apego, muitas vezes, impede que as pessoas comecem a exercitar a escrita e trava os processos de aprendizagem. (Para conhecer um pouco mais sobre nossas novas iniciativas envolvendo escrita e leitura leia o artigo: “Escrita e leitura em tempos difíceis”

No entanto,  acreditamos que algumas questões básicas de ensino podem ajudar a descomplicar a gramática e contribuir para um processo mais fluido de comunicação. Por isso, definimos o título “Simplificando a gramática”, para uma das categorias de nossos posts. Neste espaço falaremos, portanto, sobre curiosidades e dificuldades da chamada língua culta. 

Culta, para nós, tem o sentido de ser cultivada, ser usada de forma a não ferir o sentido da palavra ou da frase. Ou seja, em nosso conceito, escrever em língua culta é comunicar de forma clara e criativa as mensagens, utilizando as ferramentas certas para apresentar ideias e construir os melhores contextos.

Neste primeiro post vamos dar algumas dicas sobre crase, pois recebemos alguns pedidos para falar desse tema e sabemos que é um problema genérico e que parece ser muito difícil. 

 

Primeiras dicas sobre o uso da crase

 

Se você for ler na gramática, verá que há uma enormidade de regras. É impossível, a não ser para um computador ou alguma memória humana muito privilegiada, decorar e manter aquele tanto de regras e lembrar delas toda vez que precisar colocar uma crase. 

Então, há algumas dicas que ajudam bastante a eliminar os problemas de memória, a decoreba. Se quiser, leia as regras nas gramáticas e, se conseguir decorar, será ótimo. Mas, se quer simplificar seu aprendizado confira as dicas abaixo:

 

Dica 1- Crase não é acento

Crase não é o acento grave (`) assim, inclinado para a esquerda. Crase é a junção de “a” mais “a”. Então, para não ficar parecendo linguagem de gago, juntamos os dois “as” em um só e pomos o acento grave. 

Lembre-se que há só 3 acentos na Língua Portuguesa: Acento agudo: (´); acento grave (`); acento circunflexo (^). Til é sinal de nasalização, não é acento.

Para haver crase, é necessário que a palavra anterior exija um “a” depois dela, e que a palavra seguinte também exija um “a” antes dela. 

Isso, gramaticalmente falando, é regência nominal e regência verbal. (Regência vem de “Rei”, aquele que manda, exige) Por isso, por ser uma ordem gramatical, é chamado de Regência. 

Ex. Vou à feira. (Para não ficar: Vou a a feira.); Isso se refere à lei da sobrevivência. (Para não ficar: Isso se refere a a lei da sobrevivência.)

 

Dica 2 – Use crase para nome femininos

Só existe crase diante de nomes femininos. Então, se o nome que está à frente do “a” for masculino, não tem crase. Essa é a única regra da crase. Para manter o foco nas dicas práticas sobre crase, tudo mais que vamos falar são exceções, coisinhas miúdas que fogem à regra.

Infelizmente, para toda regra há exceção. A crase, nesse caso, só tem uma exceção, felizmente: Só se usa crase diante de nome masculino quando estiver indicando maneira ou modo de fazer igual, imitando, plagiando alguém ou algo masculino. 

Exemplos: 1. Falar à Lula. (Falar da maneira ou modo que o Lula fala. Imitar o Lula. Plagiar a fala dele); Escrever à Vinícius de Moraes (Escrever da forma que Vinicius escreveu). Nesse caso, se não colocássemos a crase, “escrever a Vinícius” teria sentido de “escrever para o Vinícius”); 3. Dirigir à Ayrton Senna (Dirigir da forma que o Senna dirigia).

 

Dica 3 – Troque a ida pela vinda

Quando numa frase houver um “a” e você tiver dúvidas se põe ou não põe crase, faça o seguinte:

No caso de ir a algum lugar, é só trocar o ir por vir. Se no lugar de “a” puder colocar “da” – então, tem crase. Se não der certo, não tem. Vejamos alguns exemplos: 

– Vou a Brasília. (Quer saber se tem crase? Escreva: Venho de Brasília. Não se fala “venho da Brasília”. Então, não tem crase na ida. 

– Vou a São Paulo. (São Paulo é nome masculino. Então, já não tem crase).

Mas, se mesmo assim você ainda tiver dúvidas, faça a troca do ir por vir. Falamos assim: “Venho de São Paulo”. Não cabe o “da”, porque não falamos “Venho da São Paulo”. Não tem crase. 

Observação importante: Tem uma exceção nessa dica. No caso de ir a algum lugar, se esse lugar, masculino ou feminino, for definido, determinado como “lugar de alguém” – por nacionalidade, naturalidade, posse – pertencimento ou por característica única, então, tem crase:

Ex. “Vou à Brasília de J.K.”; ; “Vou à Roma do Papa”. 

Tem até um versinho, de domínio público, que professores usam para facilitar a memorização:

“Se venho da, crase no “a”; Se venho de,  crase pra quê?”

 

Outras dicas importantes sobre o uso da crase

 

Dica 4 – Troque o “a” por “para a”

No caso de a frase com “a” causar dúvidas se tem ou não crase, é só trocar o “a” por “para a”. Atenção! Não é só trocar por para, tem de trocar por “para a”. Se couber o “para a”, vai ter crase. Se não couber, não tem. 

Ex: Dei um presente a Brasília, nos seus 60 anos. Posso falar: “Dei um presente para a Brasília”?

Não posso! Então, não tem crase

Mas, se eu disser:  1. “Vou a Biblioteca”. Posso trocar o “a” por “para a”? Ou seja, “Vou para a Biblioteca”. Posso, então faz sentido e tem crase: “Vou à biblioteca”; 2. “Não ligo a intransigência da crítica literária”. Posso falar: “Não ligo para a intransigência da crítica literária”? Posso. Então, tem crase. “Não ligo à intransigência da crítica literária.”

 

Dica 5 – Troque o “a” por “ao” 

Se a frase com “a” ainda causa dúvidas, experimente passar para o masculino. No lugar em que está o “a”, coloque “ao”, se fizer sentido, tem crase. 

Se for necessário, mude o nome da coisa, lugar, fato… 

Obs.: Essa é uma das principais dicas sobre o uso da crase, é uma técnica fácil e muito importante.

Por exemplo, se for um cômodo da casa, troque cozinha por quarto e veja se no lugar do “a” cabe “ao”. “Vou a cozinha”. Posso falar: “Vou ao quarto”? Posso, pois faz sentido perfeito. Então, a frase ficará “Vou à cozinha”, com crase

É isso: troque o “a” por “ao”. Se der certo, tem crase. 

“Não me refiro a morte do bezerro”. Posso falar: “não me refiro ao óbito ou enterro do bezerro”? Posso. Então, fica: “Não me refiro à morte do bezerro.”

 

Dica 6 – Casos em que se escolher

É opcional – facultativo, o uso de crase:

  1. em frente a pronomes possessivos: “Dei um presente à/a minha namorada”;
  2. antes de nomes de mulheres que não sejam famosas, não sejam celebridades: “Pediu à/a Beth para não terminar o namoro”;
  3. diante do “até”. “Vou até à/a esquina”; “Correu de Brasília até à/a capital de Goiás”. 

 

Dicas finais sobre o uso da crase

 

Dica 7 – Quando não se usa crase “de jeito nenhum”! 

Não é nosso propósito pedir ou proibir a você consultar a gramática. Mas, há regras demais! Haja paciência e memória! Para isso é que servem as dicas: para não gastar a sua beleza com consultas.

Infelizmente, nessa dica 7, precisamos citar os muitos casos em que não ocorre crase. 

Lembre-se: Dicas não são regras! São só formas de  driblar as gramatiquices.

 Os casos em que não devemos usar crase são:

  • Como já dissemos, antes de nomes masculinos (substantivos). Ex: “Ele viajou a pé”; “Não gosto de comprar a crédito”; “Os vaqueiros trabalham a cavalo”; “Em solenidades e festas a rigor, é obrigado vestir-se a caráter”;
  • Antes de verbos no infinitivo, aqueles terminados com “r”. Exemplos: “Começou a chorar assim que soube da notícia”; “Continuou a sonhar com ela a vida inteira”; “Antes mesmo de terminar o jogo, o time começou a celebrar a vitória”;
  • Em frente a nomes de cidades. Exemplos: “Chegou a Paris na hora marcada”; “Nunca fui a Vitória”; “Meu sonho sempre foi ir a Roma”;  (Detalhe, e já falamos disso na dica 3: se a cidade for determinada – cidade de alguém ou de alguma coisa – então terá crase: “Fui à Londres do famoso Shakespeare”.)
  • Entre substantivos que se repetem: “boca a boca”; “cara a cara”; “dia a dia”; “frente a frente”;
  • Na frente de pronomes pessoais, demonstrativos, de tratamento, indefinidos e relativos. Exemplos: “Solicitei a ela que me desse um sinal de sim ou não”; “Você está chegando só a esta hora?”; “Contei a Sua Excelência sobre o caso de corrupção no mandato do seu antecessor”; “Devemos ajudar a quem precisa”; “Agradeço ao livro, a quem devo tudo que a escola não me ensinou”;
  • Quando antecede o artigo indefinido “uma” – (“Foi a uma festa de aniversário”. “Fez referência a uma mulher horrorosa”); 

 

Respire fundo e continue lendo nossas dicas sobre quando não se usa crase:

  • Diante de nomes, substantivos no plural – (“A conquista foi graças a jogadores jovens”; “Odeio ficar próximo a pessoas que falam muito alto”; “Adoro ir a praias desertas”); 
  • Na frente de números cardinais – (“Vou chegar daqui a quinze minutos”; “É muita gente, deve chegar a quarenta”); 
  • Antes de nome de mulher famosa, celebridade (já vimos que diante das não famosas a crase é optativa). Mas, diante das famosas, é proibido. Exemplos: “Todas as atenções foram dirigidas a  Julia Robert”. “A raiva de Donald Trump foi dirigida a Jane Fonda”. “A valentia de Júlio César se curvou a Cleópatra”;
  • Diante da palavra casa, quando a casa não foi especificada (casa de quem ou de quê). A regra é: só usamos crase diante de “casa” se for definida casa de quem ou de quê. Exemplos: “Chegou a casa”. “Ele abandonou a mulher e nunca mais voltou a casa”. Observação: Para se lembrar dessa dica é só notar que falamos, no coloquial, “chegar em casa” e, não, “chegar a casa”.

  • Em frente a palavra terra, no sentido de terra firme, local de chão, floresta… porto. Se não estiver especificado (terra de quem ou de quê), não se usa crase. Exemplos: “O marinheiro nunca mais voltou a terra”. “A Apolo onze chegou suavemente à Terra” (Terra, aqui, é planeta, não é chão) Obs.: Se for definido, tem crase: “Em 2020, fui à terra de Camões. Como eu gostaria de ir à terra de meus ancestrais!”

 

Dica 8 – só se usa crase se a distância for determinada.

Diante da palavra distância, só se usa crase se a distância for determinada.

Exemplos: “Educação a distância” (Não tem crase, porque a distância não é determinada); “O urro do leão pode ser ouvido à distância de 5 km” (Tem crase, pois está definida a distância);

Obs.: Se for para falar de regência, vamos ter que entrar naqueles termos da sintaxe: “transitivo direto” ou “indireto”. Se for direto, não tem crase (mas tem exceções). Se for indireto tem crase, tanto em verbo quanto em substantivo e adjetivo. 

É isso, pessoal! Crase não é nenhum mistério! 

Mas, há mais exceções do que regras. Na verdade, há só uma regra: “Só se usa crase diante de nomes femininos que admitam o artigo feminino antes dele. Tudo mais são exceções.

Para saber tudo sobre regras de crase, teríamos de decorar as gerências de todos os substantivos, adjetivos, verbos e advérbios… Quem sabe tudo isso? Ninguém. Há livros e até dicionários de regências, mas, claro, são feitos por equipes de especialistas e com consultas aos milhares. 

No meu tempo de estudante de Letras, cheguei a comprar um Dicionário de Regência de Substantivos e Adjetivos, um livrão de umas 500 páginas, e outro de Regência Verbal com umas 700 páginas. Adivinha se li tudo aquilo? Nunca! Consultava, quando precisava, porque, naquela época, não tínhamos a Internet.

Quer acertar na maioria dos casos, sem ter que decorar todas as regras? Use as nossas “dicas” e ensinamentos básicos sobre crase!

Fique conosco nas nossas mídias e em nosso blog. Faça comentários! Dê seus palpites e pitacos! Teremos novas dicas! Até o próximo post!

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